ENDOMETRIOSE: DEVEMOS OLHAR PARA DOENÇA OU PARA A PACIENTE?

Por Dr André Bonafé Sotelo

Nas últimas décadas, o conhecimento clínico gerado sobre endometriose vem ganhando cada vez mais destaque, o que faz muitas mulheres questionarem se é uma doença atual ou se sempre existiu e muitas vezes era desconhecida ou ignorada pelos médicos. Isso porque essa doença apresenta um quadro clínico muito complexo e a real prevalência é muito difícil de se estabelecer.

Em alguns dados da literatura estima-se que 10-15% das mulheres em idade fértil tenham endometriose.  É consenso dentro da medicina que a sua incidência tem aumentado nas últimas décadas, provavelmente pelas mudanças de hábitos da sociedade como a idade da primeira menstruação precoce, a idade do primeiro parto mais tardia, número menor de gestações e consequente maior número de ciclos menstruais.

Mas afinal, o que é a endometriose?

Toda mulher apresenta células que são típicas do seu corpo na região interna do útero em um tecido que se chama endométrio. Quando existe a presença deste tecido endometrial fora do útero, a doença é caracterizada podendo este tecido estar frequentemente nos ovários e em regiões próximas ao útero, em casos mais graves atingindo até o trato gastrointestinal e urinário.

A sua causa ainda é incerta, porém existem teorias que ligam a endometriose a uma menstruação retrógada que ao invés de exteriorizar pela vagina ela sobe pela trompa e atinge a cavidade abdominal e por deficiência de alguns fatores imunológicos estas células conseguem se fixar em regiões diversas.

Toda mulher com endometriose tem consequências pela doença?

As manifestações mais importantes da endometriose são relacionadas a dor e a infertilidade. Estima-se que entre 30-50% das mulheres com endometriose podem apresentar alguma dificuldade para engravidar. Já a dor pode existir de forma leve, moderada ou acentuada e não há correspondência dos sintomas com a gravidade das lesões encontradas.

Essa é uma doença que vai piorar com o tempo?

Apesar de existir um pensamento corrente na população de que a doença sempre aumenta com o decorrer do tempo, a maioria dos trabalhos não conseguem concluir estes dados.  É demonstrado que a doença nem sempre é progressiva e desse modo o enfoque terapêutico deve ser individualizado caso a caso, focando na paciente e não na doença, pois alguns atos cirúrgicos podem trazer mais malefício (por exemplo, diminuir capacidade reprodutiva) do que trazer benefício imediato, principalmente em pacientes assintomáticas.

Quando é necessário tratar e de que forma?

A principal forma de tratamento para a doença é baseada na retirada das lesões por meio de uma cirurgia videolaparoscópica, que é realizada em duas situações: a primeira, quando a paciente for sintomática e com a cirurgia ela poderá viver sem dor e a segunda, quando a cirurgia puder melhorar as taxas de gestação, principalmente nas situações mecânicas de barreira para o óvulo chegar a ser fecundado (estes casos especialmente são os que devem ser estudados em cada casal).

Assim podemos concluir que o mais importante é olhar sempre para a paciente e não só para a doença.

Dr André Bonafé Sotelo (CRM: 112.823)

Médico Ginecologista pela Santa Casa de São Paulo
Especialista em Reprodução Humana e Vídeo Laparoscopia
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